16 setembro 2010

O telefone tocava longe, distante. Um toque agudo que se esvazia pela sala grande, vazia e escura. Meus dedos do pé, tão frios, davam início a uma dormência que subia-me pelas pernas até que uma vertigem roubava toda a lucidez dos meus poucos sentidos ainda alertas. No peito, a dor pulsava muda. Meu coração silenciava, a medida em que perdia, lentamente, a força dos batimentos. Silêncio. Frio. Silêncio. E o telefone tocando, tocando. Cada vez mais distante. Fechei os olhos, guardando em meus olhos as nuvens carregadas que pintavam minha íris azul. O céu estaria da mesma cor na manhã seguinte. Meus olhos não.

Diziam por aí que de amor, ninguém morre. O cinza tomou a cor dos meus olhos.
Nunca acreditei no que diziam mesmo.


Pág. 276, Quando chega o fim.