14 junho 2010

Era noite, mas por algum motivo o terceiro ano inteiro estava reunido no pátio do colégio. Alguns alunos comiam e outros jogavam. Umas línguas afiadas fofocavam e poucos bons ouvidos simplesmente ignoravam. Eu estava, no meio daquela confusão, mais ausente do que presente; quando alguém parou na minha frente, e me fez voltar à realidade. De imediato não reconheci quem era ali parado, mas depois de uns segundo lembrei já te-lô visto em uma foto. Era um amigo seu. Eu o olhei e dei um pequeno sorriso, esperando para ver o que ele queria. Então, para a minha surpresa, o indivíduo que eu mal conhecia, começou a falar milhões de besteiras sobre mim. E para piorar, quando eu achei que havia acabado, o garoto disse "Foi ele quem me contou!", e em seguida saiu com um sorriso vitorioso estampado no rosto. Congelei. Como assim você havia dito todas aquelas coisas sobre mim? Era mentira, óbvio. Tinha que ser! Foi então que eu te vi descendo as escadas, e resolvi ir falar com você. Fiquei parada esperando você chegar ao fim da escada, e quando você estava próximo, eu não resisti e te abracei, pois era uma questão de tempo para ouvir da sua boca que aquilo tudo era mentira. Porém, para minha surpresa você não correspondeu ao meu abraço, e ainda por cima me afastou. O fitei pasma e vi em seus olhos um olhar que me fez sentir o mais desprezível dos seres. Eu abri a boca pra falar, mas antes que eu conseguisse expressar qualquer coisa, você começou a jorrar palavras para cima de mim. Eram palavras podres, nojentas, malvadas, mentirosas, desagradáveis, que chegavam aos meus ouvidos como lâminas bem afiadas. Em questão de segundos o volume da sua voz havia subido, e você não estava somente falando alto, mas, sim, gritando, e o colégio inteiro estava olhando. Quanto mais você gritava, mas eu me encolhia. O que diabos estava acontecendo?! O que eu tinha feito de mal pra você?! Sempre lhe quis bem. Porque você estava me tratando daquele jeito?! Eu estava tão perdida, quanto às pessoas que assistiam aquilo tudo de fora. Já estava ficando difícil de respirar, e as besteiras que você falava ficavam cada vez mais sem nexo e grosseiras. "Eu nunca gostei de você. Você é uma trouxa de não ter percebido que eu era falso. Sua amizade pra mim nunca foi nada. Você não é nada pra mim." Você falou. E foi a última coisa que eu ouvi, antes de tudo ficar escuro e eu perder a consciência.

pág. 32, E nesse tempo todo eu não pude ver.

3 comentários:

Ariiiane ;* disse...

Infelizmente isso é uma coisa comum. Nosapaixonamos, nos entregamos e no final percebemos que tudo não passou de um teatro, um teatro em que nós fomos simplesmente marionetes nas mãos daquele que nos soube manipular ao seu bel prazer...

Ariiiane ;* disse...

PS: flor, isso é fragmento de um livro?

Maria Paula Carvalho disse...

Me deixei levar tanto pelas palavras, que senti um pouco da dor que você sentiu. Sei como é. Beijos linda ;*